Estamos às portas de mais um ano novo.
2020 está chegando e como não poderia ser diferente (afinal, Salomão
disse que não há nada de novo debaixo do sol – Ec 1.9), temos mais um
imbróglio à vista no arraial assembleiano.
Pois bem, na Lição Bíblica de Adultos da CPAD, lição 7, tópico 1, subtópico 1, está escrito: “O livre-arbítrio. É
o dom que recebemos de Deus, através do qual podemos, desimpedidamente,
escolher entre o bem e o mal (Dt 28.1; Js 24.15; 1 Rs 18.21; Hb 47).
Sem o livre-arbítrio, não seríamos o que hoje somos: seres autônomos,
conscientes da própria existência e de nosso lugar no Universo criado
por Deus.”.
Pois bem, diante do exposto, digo:
“Houston, temos um problema!”. Acontece que o texto coloca em xeque uma
doutrina essencial e basilar do Cristianismo Bíblico e Ortodoxo: a Depravação Humana ou Depravação Total.
Doutrina que afirma ser o homem desprovido de qualquer vontade de por
si só, buscar a Deus (Sl 14.1-3; Rm 3.10-12), a não ser que Ele por Sua
Graça, intervenha. E esta doutrina é ponto fechado na Teologia
Arminiana. E a Assembleia de Deus é Arminiana, correto? É isso mesmo,
Produção?
Se o homem tem a capacidade de escolher o
bem através de sua própria consciência, qual o papel do Espírito Santo
no trabalho da salvação, já que Ele é O ÚNICO agente capaz de convencer o homem do pecado, da justiça e do juízo (Jo 16.7-15)?
Já passou da hora de a AD brasileira sair
de cima do muro e assumir sua teologia. Ela brada aos quatro cantos que
é pentecostal. Beleza!!! Qual o problema em assumir ser Arminiana?
Depois ela fica chateada porque falam que ela não tem teologia própria e
nem identidade.
Mas esse tipo de declaração tem base,
força dentro da própria AD ou é apenas a opinião do comentarista (que é o
Consultor Doutrinário e Teológico da CPAD) da revista?
Manter essa posição é perigoso, pois traz à tona uma heresia rechaçada séculos atrás: o Pelagianismo.
Vamos ver agora, o que dizem algumas
Teologias Sistemáticas lançadas pela própria CPAD, aprovadas pelo
Conselho de Doutrina e até a sua própria Declaração de Fé sobre o tema:
“A Queda distorceu e avariou a imagem divina no homem. O destaque maior no relato da criação está na palavra “imagem”: “E criou Deus o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou”
(Gn 1.27). Existem alguns ensinamentos de que o ser humano na Queda
perdeu a imagem de Deus em si. Essa teoria é incoerente, pois a imagem e
a semelhança, de fato, se referem aos aspectos moral e espiritual, os
quais ainda persistem no ser humano, apesar de desfigurados e
transtornados pela Queda e o pecado subsequente.
Quanto à imagem moral, o homem é
constituído de intelecto, vontade e sentimento; isto é, as faculdades da
alma. Quanto à imagem espiritual, ele possui espírito e alma. Essas
imagens não integram a criação animal.
O homem perdeu a santidade original, a
pureza de atitudes. Seu caráter foi afetado; tornou-se o ser humano
pecaminoso. Seu intelecto foi corrompido pela mentira, pela falsidade e
pelo engano. Disse o sábio, em Eclesiastes que Deus fez o homem reto,
mas ele se envolveu em muitas astúcias (7.29).
A imagem de Deus no homem está, pois,
deturpada. Só é possível a sua restauração pela obra expiatória de
Cristo. O corpo não é a imagem de Deus, porque é formado do pó. Porém, o
Senhor soprou nele a nephesh — a vida física da alma que possui a
imagem e semelhança de Deus (Gn 2.7). Os impulsos físicos, pois,
encontram-se sob o controle do espírito humano, a sua parte superior.”
Elienai Cabral (atualmente Consultor Doutrinário e Teológico da CPAD)
Teologia Sistemática Pentecostal, CPAD, p.307
“O ensino bíblico a respeito do pecado apresenta nitidamente dupla face: A DEPRAVAÇÃO ABISSAL DA HUMANIDADE (ênfase minha)
e a sobrepujante glória de Deus. A sombra do pecado está sobre cada
aspecto da existência humana. Fora de nós, o pecado é um inimigo que
seduz; por dentro, compele-nos ao mal, ermo parte de nossa natureza
caída. Nesta vida, o pecado é intimamente conhecido, ainda que permaneça
estranho e misterioso. Promete a liberdade, mas escraviza, produzindo
desejos que não podem ser satisfeitos. Quanto mais nos debatemos para
escapar ao seu domínio, tanto mais inextricavelmente nos enlaça.
Compreender o pecado nos ajuda no conhecimento de Deus, porém O PECADO DISTORCE ATÉ MESMO NOSSO CONHECIMENTO DO PRÓPRIO-EU (ênfase minha).
Mas se a luz da iluminação divina consegue penetrar essas trevas, e não
somente as trevas, mas também a própria luz, então poderão ser melhor
analisadas.”
Bruce R. Marino
Teologia Sistemática – Uma Perspectiva Pentecostal, editado por Stanley M. Horton, CPAD, p. 263
4. O pecado original.
Adão não foi criado impecável, nem pecaminoso, mas, sim, perfeito: “Deus
fez ao homem reto, mas ele buscou muitas invenções” (Ec 7.29). Deus
dotou Adão do livre-arbítrio, com o qual ele era capaz tanto de obedecer
quanto de desobedecer ao Criador. Ele escolheu desobedecer a Deus, e a
sua queda arruinou toda a humanidade, distanciada de Deus: ״Porque todos
pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Rm 3.23). A iniquidade
de Adão, a qual nós chamamos de pecado original, contaminou toda a raça
humana; em consequência disso, a humanidade tornou-se universal e TOTALMENTE DEGENERADA (ênfase minha),
pois todos os seus descendentes nascem em pecado; todos nascemos em
transgressão. Deus, entretanto, prometeu o Redentor ainda no jardim do
Éden, quando anunciou a vinda da “semente da mulher” para esmagar a
cabeça da serpente. Apesar de corrompida pelo pecado, a natureza humana
pode ser eficazmente regenerada por Cristo: “se alguém está em Cristo,
nova criatura é: as. Coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez
novo” (2 Co 5.17); “Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus
para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas”
(Ef 2.10); o nosso corpo pode ser o templo do Espírito Santo.
6. A CORRUPÇÃO TOTAL (ênfase minha) do gênero humano.
A Queda no Éden arruinou toda a humanidade tão profundamente que
transmitiu a todos os seres humanos a tendência ou inclinação para o
pecado. Não somente isso, contaminou toda a humanidade: “não há um justo
sequer” (Rm 3.10); “todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus”
(Rm 3.23). A natureza moral foi corrompida, e o coração humano
tornou-se enganoso e perverso. Todas as pessoas estão mortas em ofensas e
pecados; são inimigas de Deus e escravas do pecado. A corrupção do
gênero humano atingiu o homem em toda a sua composição — corpo, alma e
espírito, conforme lemos em Isaías: “Toda a cabeça está enferma, e todo o coração, fraco. Desde a planta do pé até à cabeça não há nele coisa sã”
(1.5,6). Isso prejudicou todas as suas faculdades, quais sejam:
intelecto, emoção, vontade, consciência, razão e liberdade. Portanto, o
homem por si mesmo não consegue voltar-se para Deus sem o auxílio da
graça divina. Apesar de tudo, a imagem de Deus no homem não foi
aniquilada, foi, no entanto, desfigurada a tal ponto que a sua
restauração só é possível em Cristo. Jesus reconheceu algumas qualidades
no moço rico e até mesmo nos fariseus. Todos nós conhecemos descrentes
que são pessoas de bem, honestas e de bom caráter e religiosas, como o
centurião de Cafarnaum, ainda que o bem social que elas praticam leve a
marca da contaminação do pecado.
Confissão de Fé das Assembleias de Deus, CPAD, pp. 99-101
1. Lição Bíblica Adulto, CPAD, 1º Trim. 2020, lição 7, tópico 1, subtópico 1
2. Quadro explicativo extraído do livro Teologia Sistemática, volume 2, de Norman Geisler, CPAD, p.124
Ir. Márcio da Cruz