Rádio Hinos Inspirados


quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

O FRUTO DO ESPÍRITO






Afinal... que é o fruto do Espírito? - É a expressão da natureza e caráter de Cristo através do crente. É a reprodução da vida de Cristo no crente. Sendo Ele o original - o crente, a cópia!”.

 





Gálatas 5.22-25 (NVI, ARA, KJA, BJ, ARC, ARM1967, ACF2007, LTT2009)

“Mas o fruto do Espírito é:
1. Amor (caridade),
2. Gozo (alegria),
3. Paz,
4. Longanimidade (paciência),
5. Benignidade (amabilidade, delicadeza, afabilidade),
6. Bondade (benevolência),
7. Fé (fidelidade),
8. Mansidão (humilde, humildade),
9. Temperança (domínio próprio, domínio de si, autocontrole).
Contra essas coisas não há lei. E os que são de Cristo crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências. Se vivemos no Espírito, andemos também no Espírito”.
 

Uma vez que fruto está no singular, tudo indica que as seguintes características são vistas como uma unidade harmoniosa. Trata-se de um prisma multifacetado que exibe sua beleza de formas diversas, porém integradas. Fruto (22) é o sinal certo da vida saudável da árvore, e "o Fruto do Espírito" é a linda, calma e sempre progressiva manifestação por meio da conduta, e até à idade avançada (Sl 92.14), daquela nova vida que foi comunicada por Deus. Paulo não escreve sobre "frutos" e, sim, sobre "fruto"; cf. "fruto da justiça" (Fp 1.11, gr. καρπος - karpos) e "fruto da luz" (Ef 5.9, gr. καρπος - karpos). Um belo cacho de nove variedades de fruto é aqui descrito. "Semelhante à cadeia das graças, em 2Pe 1.5-7, todas estas variedades estão ligadas como que para sugerir que a ausência de qualquer delas significa a anulação de todas" (artigo "Fruit", em H. A. C.). A tríplice classificação feita por Lightfoot, em Hábitos Mentais, Qualidades Sociais e Princípios Gerais de Conduta, uma vez mais é de grande ajuda:

1. HÁBITOS MENTAIS (22). Amor. O Espírito Santo inspira na alma aquele amor a Deus e aos homens que é o cumprimento da lei (cf. v14). Examinar o admirável elogio de Paulo ao amor, em 1Co 13. Alegria. Profundo regozijo de coração, tal como as bebedeiras e outras obras da carne jamais podem produzir. Essa alegria é a alegria "no Senhor" (Fp 4.4), e não por causa das circunstâncias. Paz. O senso de harmonia no coração no que tange a Deus e ao homem, aquela paz de Deusque guarda o coração contra todas as preocupações e temores que pretendem invadi-lo (Fp 4.7).

2. QUALIDADES SOCIAIS (22). Longanimidade. Paciência passiva debaixo das injúrias ou danos sofridos. Benignidade. A bondosa disposição para com o próximo. Bondade. Beneficência ativa, sendo assim um passo além da benignidade. Nenhum tributo mais excelente poderia ser pago a Barnabé do que ter sido dito dele que era "homem bom", e isso por estar "cheio do Espírito Santo e de fé" (At 11.24).
 
3. PRINCÍPIOS GERAIS DE CONDUTA (22-23). Fidelidade; cf. Tt 2.10, onde a palavra é também assim traduzida. Algumas versões dizem "fé"; mas certamente esta versão (fidelidade) é mais correta. Mansidão. O temperamento (especialmente o cristão) de não defender com unhas e dentes os próprios direitos. Nosso Senhor associa benção a essa virtude (Mt 5.5), sendo um de Seus próprios atributos (Mt 11.29 e 2Co 10.1). Domínio próprio. Geralmente traduzido por "temperança" noutras versões; "autocontrole". A ideia sugerida é a do indivíduo que sabe controlar firmemente seus desejos e paixões; a palavra ocorre em At 24.25 e 2Pe 1.6.
 

Em contraste com as obras da carne, temos o modo de viver íntegro e honesto que a Bíblia chama “O FRUTO DO ESPÍRITO”. Esta maneira de viver se realiza no crente à medida que ele permite que o Espírito dirija e influencie sua vida de tal maneira que ele (o crente) subjugue o poder do pecado, especialmente as obras da carne, e ande em comunhão com Deus (ver Rm 8.5-14; cf. 2Co 6.6; Ef 4.2,3; 5.9; Cl 3.12-15; 2Pe 1.4-9).

O fruto do Espírito inclui:

1. “AMOR” (gr. agápe - αγαπη), i.e., o interesse e a busca do bem maior de outra pessoa sem nada querer em troca (Rm 5.5; 1Co 13; Ef 5.2; Cl 3.14). O termo do Novo Testamento não trata de uma palavra de uso comum no grego clássico. Em grego há quatro termos para amor.
a. Eros é o amor de um homem a uma mulher; é o amor imbuído de paixão. O termo não se emprega no Novo Testamento.
b. Filia é o amor para com nossos próximos e familiares; é algo do coração e seus sentimentos.
c. Storge significa, antes, afeto, e se aplica particularmente ao amor de pais e filhos.
d. Agápe é o termo cristão, e realmente significa benevolência invencível. Significa que nada que alguém possa nos fazer por meio de insultos, injúrias ou humilhações nos forçará a buscar outra coisa senão o maior bem do mesmo. Portanto, é um sentimento tanto da mente como do coração; corresponde tanto à vontade como às emoções. O termo descreve o esforço deliberado — que só podemos realizar com a ajuda de Deus — de não buscar jamais outra coisa senão o melhor, até para aqueles que buscam o pior para nós.
 
2. “ALEGRIA” (gr. chara - χαρα), i.e., a sensação de alegria baseada no amor, na graça, nas bençãos, nas promessas e na presença de Deus, bençãos estas que pertencem àqueles que creem em Cristo (Sl 119.14,16; 2Co 6.10; 12.9; 1Pe 1.8). Não é a alegria que provém de coisas terrenas ou triunfos fúteis; muito menos o que tem sua fonte no triunfo sobre alguém com quem se esteve em rivalidade ou competição. É, antes, a alegria que tem Deus como fundamento.
 
3. “PAZ” (gr. eirene - ειρηνη), i.e., a quietude de coração e mente baseada na convicção de que tudo vai bem entre o crente e seu Pai celestial (Rm 15.33; Fp 4.7; 1Ts 5.23; Hb 13.20). O grego coloquial contemporâneo desta palavra (eirene) tem dois usos interessantes. Aplica-se à tranquilidade e serenidade que goza um país sob o governo justo e benéfico de um bom imperador. E se usa para a boa ordem de um povoado ou uma aldeia. Nas aldeias havia um funcionário chamado superintendente da eirene da aldeia; este era o guardião da paz pública. No Novo Testamento o termo eirene ordinariamente representa o hebraico shalom, e não significa simplesmente liberdade de dificuldades, mas sim tudo aquilo que faz o bem supremo do homem. Aqui significa essa tranquila serenidade do coração proveniente da plena consciência de que nosso tempo está nas mãos de Deus. É interessante advertir que tanto chara como eirene chegaram a ser nomes muito comuns na Igreja.
 
4. “LONGANIMIDADE” (gr. makrothumia - μακροθυμια), i.e., perseverança, paciência, ser tardio para irar-se ou para o desespero (Ef 4.2; 2Tm 3.10). Falando em geral, a palavra não se usa para a paciência com respeito a coisas ou acontecimentos, senão para a paciência com respeito às pessoas. Crisóstomo diz que é a graça do homem que podendo-se vingar não o faz; do que é lento para a ira. O que mais ilumina seu significado é seu uso muito comum no Novo Testamento com respeito à atitude de Deus e de Jesus para com os homens (Rm 2.4; 9.22; 1Tm 1.16; 1Pe 3.20). Se Deus agisse como o homem, há tempos que teria levantado Sua mão para destruir este mundo; mas tem tal paciência que suporta todos os nossos pecados e não nos despreza (Rm 9.22). Em nossa vida, em nossa atitude e nossos entendimentos com nossos semelhantes devemos reproduzir esta atitude de Deus para conosco, de amor, tolerância, perdão e paciência.
 
5. “BENIGNIDADE” (gr. chrestotes - χρηστοτης), i.e., não querer magoar ninguém, nem lhe provocar dor (Ef 4.32; Cl 3.12; 1Pe 2.3). É um termo positivo. Plutarco diz que é muito mais difundido que a justiça. Um vinho antigo se chama crestos, suave. O jugo de Cristo é crestos (Mateus 11.30), quer dizer, não roça nem incomoda nem mortifica. A ideia geral é a de uma amável bondade.
 
6. “BONDADE” (gr. agathosune - αγαθωσυνη), i.e., zelo pela verdade e pela retidão, e repulsa ao mal; pode ser expressa em atos de bondade (Lc 7.37-50) ou na repreensão e na correção do mal (Mt 21.12,13). É a mais ampla expressão da bondade; define-se como "a virtude equipada para cada momento". Qual é a diferença? A bondade poderia - e pode - reprovar, corrigir e disciplinar; a crestotes só pode ajudar. Trench diz que Jesus mostrou agathosune quando purificou o templo e expulsou os que o transformavam num mercado, mas manifestou crestotes quando foi amável com a mulher pecadora que lhe ungia os pés. O cristão necessita de uma bondade que seja ao mesmo tempo amável e enérgica.
 
7. “FIDELIDADE” (gr. pistis - πιστις), i.e., lealdade constante e inabalável a alguém com quem estamos unidos por promessa, compromisso, fidedignidade e honestidade (Mt 23.23; Rm 3.3; 1Tm 6.12; 2Tm 2.2; 4.7; Tt 2.10). No grego popular esta palavra é comum para confiança. É a característica do homem digno de confiança.
 
8. “MANSIDÃO” (gr. praotes - πραοτης), i.e., moderação, associada à força e à coragem; descreve alguém que pode irar-se com equidade quando for necessário, e também humildemente submeter-se quando for preciso (2Tm 2.25; 1Pe 3.15,16; para a mansidão de Jesus, cf. Mt 11.29 com 23; Mc 3.5; a de Paulo, cf. 2Co 10.1 com 10.4-6; Gl 1.9; a de Moisés, cf. Nm 12.3 com Êx 32.19,20). Praotes é a palavra que menos se presta à tradução. No Novo Testamento tem três significados principais:
a. Significa submisso à vontade de Deus (Mateus 5.5; 11.29; 21.5).
b. Significa dócil: o homem que não é muito soberbo para aprender (Tg 1.21).
c. Com maior frequência significa controlado (1Co 4.21; 2Co 10.1; Ef 4.2). Aristóteles definiu a praotes como o termo médio entre a ira excessiva e a mansidão excessiva; como a qualidade do homem que está sempre irado, mas só no momento devido. O que lança maior luz no significado da palavra é que o adjetivo praus aplica-se a um animal domesticado e criado sob controle; o termo fala do domínio próprio que só Cristo pode dar. Praotes refere-se ao espírito submisso a Deus, dócil em tudo e considerado bom para com seu próximo.
Mansidão é a combinação de força e suavidade. “Quando temos praotes, tratamos todas as pessoas com cortesia perfeita, reprovamos sem rancor, argumentamos sem intolerância, enfrentamos a verdade sem ressentimento, iramos, mas não pecamos, somos gentis, mas não fracos”.
 
9. “DOMÍNIO PRÓPRIO” (gr. egkrateia - εγκρατεια), i.e., o controle ou domínio sobre nossos próprios desejos e paixões, inclusive a fidelidade aos votos conjugais; também a pureza (1Co 7.2,9; Tt 1.8; 2.5). É o espírito que dominou seus (de Paulo) desejos e amor ao prazer. Aplica-se à disciplina que os atletas exercem sobre o próprio corpo (1Co 9.25) e do domínio cristão do sexo (1Co 6.18; 7.9). No grego corrente aplica-se à virtude de um imperador que jamais permite que seus interesses privados influam no governo do povo. É a virtude que faz ao homem tão dono de si, que é capaz de ser servo de outros.

 
O ensino final de Paulo sobre o fruto do Espírito o crente pode — e realmente deve — praticar essas virtudes continuamente. São virtudes éticas que lidam primariamente com as relações interpessoais. Nunca haverá uma lei que lhes impeça de viver segundo os princípios aqui descritos. Como Deus, que enviou a lei, também enviou o Espírito, os subprodutos da vida cheia do Espírito harmonizam-se perfeitamente com o objetivo da Lei de Deus. Uma pessoa que exibe o fruto do Espírito satisfaz a Lei muito melhor do que uma pessoa que mantém os rituais, mas tem pouco amor no seu coração.

Obs.: *Em alguns círculos cristãos, levanta-se o argumento implausível de que o fruto do Espírito veio para substituir os dons do Espírito, como se o primeiro fosse melhor ou mais importante do que o segundo. O crente equilibrado do Novo Testamento irá desejar tanto o fruto quanto os dons do Espírito Santo operando em sua vida, de modo a poder melhor servir a Deus e aos seres humanos seus companheiros. Muitos, em vez de andarem à cata de dons, deviam antes, desenvolver o fruto do Espírito, porque, dons espirituais e serviço efetuado sem o fruto do Espírito, são uma anomalia...


Em Cristo,
Ir. Márcio da Cruz

AS OBRAS DA CARNE






A liberdade cristã não libera o crente andar segundo o curso desse mundo, mas para viver e se conduzir sob a vontade, direção e influência do Espírito Santo”.


 





Gl 5.19-21 (ARA, ARC, ACF, ARM, Católica)

“Porque as obras da carne são manifestas, as quais são:
1. prostituição (adultério, fornicação),
2. impureza,
3. lascívia (libertinagem),
4. idolatria,
5. feitiçarias,
6. inimizades (ódio),
7. porfias (contendas, discórdia),
8. emulações (ciúmes),
9. iras,
10. pelejas (discórdias, rivalidade),
11. dissensões (divisão),
12. heresias (facções, partidos, sectarismo),
13. invejas,
14. homicídios (TR),
15. bebedices (bebedeira),
16. glutonarias (orgias)
e coisas semelhantes a estas, acerca das quais vos declaro, como já antes vos disse, que os que cometem tais coisas não herdarão o Reino de Deus.”



Por não haver cristão isento de pecado, pois isso seria perfeição absoluta (1Jo 1.8,9), Deus concedeu-nos condição suficiente para vencermos as tentações: viver no Espírito Santo. Viver no Espírito é subjugar a carne e isso gera o conflito interno, a luta da carne contra o espírito. Nenhum trecho da Bíblia apresenta um mais nítido contraste entre o modo de vida do crente cheio do Espírito e aquele controlado pela natureza humana pecaminosa do que Gl 5.16-26. Paulo não somente examina a diferença geral do modo de vida desses dois tipos de crentes, ao enfatizar que o Espírito e a carne estão em conflito entre si, mas também inclui uma lista específica tanto das obras da carne, como do fruto do Espírito.

A oposição do Espírito à carne é tamanha que resulta em proteção vital para o crente que anda pelo Espírito. Ele não precisa fazer o que ele por si mesmo faz. Não é que ele seja incapaz de seguir os próprios desejos, mas que ele não tem o poder de segui-los quando são contrários à vontade de Deus. Isto significa que, quando o crente anda pelo Espírito, os desejos do Espírito substituem os desejos da carne.

Hoje, o crente em Cristo não enfrenta a mesma ameaça da escravidão à lei, mas é muito real a rígida alternativa entre viver debaixo do Espírito e viver debaixo do pecado. Viver debaixo do Espírito é a única proteção contra viver debaixo do pecado.

 
OBRAS DA CARNE.
“Carne” (gr. sarx) é a natureza pecaminosa com seus desejos corruptos, a qual continua no cristão após a sua conversão, sendo seu inimigo mortal (Rm 8.6-8,13; Gl 5.17,21). Possui vários significados na Bíblia, principalmente nas epístolas. Pode significar fraqueza física (Gl 4.13), o corpo, o ser humano (Rm 1.3), o pecado (Gl 5.24), os desejos pecaminosos (Rm 8.8). O contexto quando corretamente interpretado determina o significado da palavra. Aqui significa o conjunto de impulsos pecaminosos que dominam o homem natural. Aqueles que praticam as obras da carne não poderão herdar o reino de Deus (Gl 5.21). Por isso, essa natureza carnal pecaminosa precisa ser resistida e mortificada numa guerra espiritual contínua, que o crente trava através do poder do Espírito Santo (Rm 8.4-14; Gl 5.17). As obras da carne (Gl 5.19-21) incluem:


1. PECADOS DE ORDEM MORAL
 
A sociedade greco-romana era dada à licenciosidade. Quem visita ainda hoje a Grécia e a Turquia, parte do mundo greco-romano do século I, pode ver uma pálida amostragem do que seria a sociedade da época, a começar pelo ritual religioso deles. Talvez isso justifique o fato de a Bíblia começar a lista com os pecados da licenciosidade. Hoje a tendência é inverter os valores morais. À medida que o tempo avança a sociedade vai se tornando mais permissiva quanto ao pecado e os homens vão se distanciando cada vez mais de Deus.
 

1. “Prostituição” (gr. pornéia), i.e., imoralidade sexual de todas as formas. Isto inclui, também, gostar de quadros, filmes ou publicações pornográficos (cf. Mt 5.32; 19.9; At 15.20,29; 21.25; 1Co 5.1). Os termos moichéia (adultério) e pornéia são traduzidos por um só em português: prostituição.
 
2. “Impureza” (gr. akatharsia), i.e., pecados sexuais, atos pecaminosos e vícios, inclusive maus pensamentos e desejos do coração (Ef 5.3; Cl 3.5). William Barclay diz que o termo era usado para descrever o pus de uma ferida não desinfetada.
 
3. “Lascívia” (gr. aselgeia), i.e., sensualidade. É a pessoa seguir suas próprias paixões e maus desejos a ponto de perder a vergonha e a decência (2Co 12.21). Aselgeia refere-se à devassidão, um apetite libertino e desavergonhado. Trata-se daqueles atos indecentes que chocam o público. Um homem entregue à lascívia não conhece freio algum, só pensa no seu prazer e já não se importa com o que pensam as pessoas.

William Barclay relaciona significativamente estes três termos: “Porneia indica pecado em área específica da vida: a área das relações sexuais; Akatharsia indica profanação geral da personalidade inteira, manchando toda esfera da vida; Aselgeia indica amor ao pecado tão despreocupado e tão audacioso que a pessoa deixa de se preocupar com o que Deus ou os homens pensam de suas ações”.


2. PECADOS DE ORDEM RELIGIOSA
 
4. “Idolatria” (gr. eidololatria), i.e., a adoração de espíritos, pessoas ou ídolos, e também a confiança numa pessoa, instituição ou objeto como se tivesse autoridade igual ou maior que Deus e sua Palavra (Cl 3.5). O mal básico na idolatria é que a criação é adorada no lugar do Criador (cf. Rm 1.19-23). Neste sentido, “idolatria” é igualmente um problema em nossos dias, embora esteja revestido com requinte. “Sempre que qualquer coisa no mundo passa a assumir o principal lugar em nosso coração, mente e propósito, então essa coisa tornou-se ídolo, pois usurpou o lugar que pertence a Deus.”
 
5. “Feitiçarias” (gr. pharmakeia), i.e., espiritismo, magia negra, adoração de demônios e o uso de drogas e outros materiais, na prática da feitiçaria (Êx 7.11,22; 8.18; Ap 9.21; 18.23). A palavra no original aqui, significa “magia”, além de “feitiçaria”. O termo no original envolve a manipulação de drogas na medicina, de onde vem a palavra “farmácia”, mas os mágicos e bruxos manipulavam os efeitos alucinógenos dessas drogas nos rituais de magia (Ap 21.8; 22.15). Hoje a feitiçaria envolve toda a forma de ocultismo.


3. PECADOS DE ORDEM SOCIAL
 
Há uma lista quase que interminável desses pecados (ver Rm 1.29-31), O apóstolo apresenta aqui nove desses pecados: “inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias, invejas, homicídios...”. A presença de “heresias” nesta lista é que a palavra grega hairesis pode se aplicar no âmbito religioso ou social, significando “escolha filosófica, facção, dissensão” (1Co 11.19). Também tem o sentido de erro doutrinário (2Pe 2.2) ou seita (At 5.17; 23.5).
 
6. “Inimizades” (gr. echthra), i.e., intenções e ações fortemente hostis; antipatia e inimizade extremas. Trata-se daquele sentimento hostil nutrido por longo tempo, que se enraíza no coração.
 
7. “Porfias” (gr. eris), i.e., brigas, oposição, luta por superioridade (Rm 1.29; 1Co 1.11; 3.3). Paulo deixa claro que “brigas”, atitude tão característica no mundo pagão (cf. Rm 1.29), estavam diametralmente opostas à unidade que Deus planejou para a comunhão cristã. Por isso, condenou com veemência seu aparecimento na igreja. É a rivalidade por recompensa.
 
8. “Emulações” (gr. zelos), i.e., ressentimento, inveja amarga do sucesso dos outros (Rm 13.13; 1Co 3.3). Paulo o usa com o sentido de zelo, entusiasmo ou ardor na busca de uma causa ou tarefa. No grego secular, zelos descrevia uma virtude nobre (cf. 2Co 11.2), fornecendo ímpeto para emular aquilo que era admirado nas realizações ou posses dos outros. Porém, tal concentração na felicidade dos outros pode se degenerar em ressentimento invejoso, tornando zelos semelhante à inveja (phthanos, v 21). Assim, emulação (zelos) não é intrinsecamente mal. Quando a pessoa depara o sucesso e realizações dos outros, ela pode se inspirar e escalar novas alturas, ou se ressentir dessa felicidade com ciúme amargo. Este é o segundo significado da palavra grega zelos encontrada no Novo Testamento. Significa “ciúme” com conotação má. O significado nesta passagem é, obviamente, “ciúme”.
 
9. “Iras” (gr. thumos), i.e., ira ou fúria explosiva que irrompe através de palavras e ações violentas (Cl 3.8). Uma das “obras da carne” mais complexa é ira (v 20, thymoi). Na Septuaginta, tem “extensa gama de significados: ira humana e ira divina, ira diabólica e ira bestial, ira nobre e ira destrutiva”. Paulo e outros escritores do Novo Testamento usam o termo primariamente com referência a homens. Refletindo uma distinção encontrada no grego secular, thymos enfatiza os aspectos violentos e breves da ira, ou seja, “temperamento explosivo, ou raiva instantânea”; é diferente da ira mais crônica (orge). Na realidade, thymos é “raiva” que é verdadeira “loucura temporária”, refletindo hostilidade pecaminosa que é nitidamente um mecanismo de defesa da carne. Já se disse que uma personalidade sensata necessita de moderação, equilíbrio, mas não há dúvida de que raiva tem conotações boas e más. Mas no Novo Testamento, o temperamento útil sempre é orge e nunca thymos. “O termo grego thymos é algo que deve ser banido da vida cristã. [...] O Novo Testamento é bastante claro em afirmar que semelhante exibição de temperamento é manifestação pecaminosa que o indivíduo ainda está no domínio de sua natureza inferior (carne).”
 
10. “Pelejas” (gr. eritheia), i.e., ambição egoísta e a cobiça do poder (2Co 12.20; Fp 1.16,17). Não deve ser derivada de éris, briga, mas de érithos, “trabalhador assalariado”, e tornou-se uma palavra usada para xingar o procedimento ganancioso e vil.
 
11. “Dissensões” (gr. dichostasia), i.e., introduzir ensinos cismáticos na congregação sem qualquer respaldo na Palavra de Deus (Rm 16.17). No grego original é “dichostasiai”, ou seja, “sedições”, “levantes”. Podiam ser de natureza política, social ou particular. Paulo quer indicar aqui as várias querelas entre irmãos, que ameaçavam a unidade do corpo de Cristo. (Comparar com o trecho de Rm 16.17, onde Paulo nos adverte contra as dissensões, que são provocadas por aqueles que servem à si mesmos, e não a Cristo Jesus).
 
12. “Heresias” (gr. hairesis), i.e., grupos divididos dentro da congregação, formando conluios egoístas que destroem a unidade da igreja (1Co 11.19). Não tem intrinsecamente uma conotação ruim. Contudo, Paulo usa o termo com referência aos elementos divisores na igreja que se formaram em grupos ou seitas. Tais grupos exclusivos (ou panelinhas) fragmentaram a igreja e “uma igreja fragmentada não é igreja!”. E mais que natural que estes grupos exclusivos se considerassem certos e todos os outros errados. Paulo condenou semelhante sectarismo, taxando-os de “obras da carne”.
 
13. “Invejas” (gr. fthonos), i.e., antipatia ressentida contra outra pessoa que possui algo que não temos e queremos. A palavra grega fthonoi, traduzida por “invejas”, vai além dos ciúmes. E o espírito que deseja não somente as coisas que pertencem aos outros, mas se entristece pelo fato de outras pessoas possuírem essas coisas. Os invejosos não apenas desejam o que pertence aos outros, mas anseiam que os outros sofram por perder essas coisas. Trata-se das pessoas que se alegram com a tristeza dos outros. Não é tanto o desejo de ter as coisas, mas o desejo de que os outros as percam. E entristecer-se por algum bem alheio. Eurípedes chamou a inveja de “a maior enfermidade entre os homens”.
 
14. “Homicídios” (gr. phonos), i.e., matar o próximo por perversidade, assassinar (Êx 20.13). A tradução do termo phonos na Bíblia de Almeida está embutida na tradução de methe, a seguir, por tratar-se de práticas conexas.


4. PECADOS DE ORDEM PESSOAL
 
Esses dois últimos pecados têm a ver com a intemperança ou o abuso e a falta de domínio próprio na área de comida e bebida.

15. “Bebedices” (gr. methe), i.e., descontrole das faculdades físicas e mentais por meio de bebida embriagante. A palavra grega methai, “bebedices”, refere-se à pessoa que se embriaga na busca de sensualidade ou prazer. No mundo antigo tratava-se de um vício comum. Os gregos bebiam mais vinho do que leite. Até as crianças bebiam vinho. A embriaguez, contudo, transforma homens em feras.
Há um comentário judaico interessante sobre Noé e sua embriaguez após o dilúvio: “Quando Noé plantou a vinha, o Satán quis associar-se a este trabalho e Noé consentiu. O astuto demônio trouxe um cordeiro, um leão, um porco e um macaco, imolou-os e regou com sangue a terra da planta. O caráter dos animais sacrificados não tardou a manifestar-se em Noé e com seus descendentes depois de ingerida a bebida. Bebendo um copo, o homem é mano com um cordeiro, no segundo copo, crê-se forte como um leão, declarando que não há igual a ele no mundo. Após o terceiro copo, deita-se como um porco e, continuando a beber, não tarda a praticar insanidades e palhaçadas como o símio (Midrash Tanchumá, Noé 13)”.

16. “Glutonarias” (gr. komos), i.e., diversões, festas com comida e bebida de modo extravagante e desenfreado, envolvendo drogas, sexo e coisas semelhantes. A palavra pode ser traduzida também por “orgias”. O termo tem uma história interessante. Komos era um grupo de amigos que acompanhavam o vencedor nos jogos depois de sua vitória. Dançavam, riam e cantavam suas canções. Também descreve os grupos de devotos de Baco, o deus do vinho. O termo significa rebeldia não refreada e desgovernada. E diversão que se degenera em licenciosidade.

 
As palavras finais de Paulo sobre as obras da carne são severas e enérgicas: QUEM SE DIZ crente em Jesus E PARTICIPA dessas atividades iníquas EXCLUI-SE do reino de Deus, i.e., NÃO TERÁ SALVAÇÃO (Gl 5.21; 1Co 6.9,10).



Em Cristo,
Ir. Márcio da Cruz